quarta-feira, 9 de junho de 2010

Análise do capitalismo contemporâneo pela ótica de Karl Marx

Apesar de todo o empenho aplicado, nas duas últimas décadas, na implantação do modelo neoliberal - principalmente nos países em desenvolvimento - os resultados obtidos são decepcionantes: baixas taxas de crescimento econômico, elevadas taxas de desemprego e aumento da concentração de renda são apenas alguns exemplos da lógica implacável que o sistema capitalista obedece. Em decorrência desses resultados, a ampla aceitação inicial do modelo vem sendo substituída, cada vez mais, pela crescente desaprovação popular e, por consequência, cresce a demanda por um novo modelo desenvolvimentista. Logo, os conceitos do alemão Karl Marx são, novamente, vistos como a principal alternativa para as crises do capital.

No capítulo “A mercadoria” de O Capital, por exemplo, Marx procura mostrar que de todos os males que o capitalismo trouxe, o mais nocivo seria o processo de reificação do ser humano. Ou seja, na economia liberal, os trabalhadores foram transformados em meras peças de uma engrenagem muito maior, existindo apenas para produzir e, posteriormente consumir, mercadorias - que são as verdadeiras protagonistas desse sistema. A evidência disso é a forma que as relações sociais se dão em nossos dias. Com que facilidade as pessoas são usadas e descartadas, como se não fossem nada além de corpos que podem, por um tempo, proporcionar prazer ou trazer algum tipo de benefício a alguém.

O que fez com que a situação mundial tomasse esse rumo seria, em primeiro lugar, a exploração de trabalho visando o lucro de uma minoria, ou seja, um operário na realidade produz muito mais do que lhe é pago na forma de salários - o que Marx define como mais-valia. Não há como negociar com o patrão por um pagamento melhor: o sistema capitalista nunca absorve toda a mão-de-obra existente, levando a formação do chamado exército industrial de reserva, que nada mais é que a grande massa de desempregados das grandes cidades. Esse excesso de oferta de mão-de-obra permite que os patrões baixem os salários. Assim, o dono da empresa ganha um lucro desproporcional em relação aos seus empregados, pois, além de possuir o meio necessário para que o trabalhador produza, ele torna seu empregado totalmente dependente, principalmente por causa da alienação, pois muitas vezes o trabalhador só sabe realizar determinada parte do processo necessário para elaborar o produto final, necessitando de uma empresa para conseguir fazer seu ofício. Dessa forma, diversos trabalhadores se vêem presos ao sistema, não possibilitando uma mudança para melhor em seu quadro econômico e de classe, pois o indivíduo sempre necessitará de alguém que lhe ofereça o modo de produzir e com a grande concorrência terá que normalmente aceitar um salário inferior.

Uma manifestação do papel da massa de desempregados na atualidade pode ser vista no surgimento de formas “alternativas” de contratação, como, por exemplo, empresas que só contratam pessoas jurídicas – mesmo que a suposta pessoa jurídica contratada seja composta apenas por um trabalhador – ou forçam seus funcionários a adotar regimes de cooperativa. Nos dois casos, o objetivo é o mesmo: não pagar aos trabalhadores os direitos previstos na lei. Não há como recusar tal oferta: se o trabalhador o faz, há vários outros dispostos a aceitar essas condições de trabalho. Além disso, essa classe (a de trabalhadores de classe pobre principalmente) é constantemente alvo da mídia e do que ela divulga, que vê na classe média-baixa uma maneira fácil de obter dinheiro através do consumismo promovido pela propaganda, seja ela explícita, seja disfarçada em produtos culturais, como filmes, músicas, revistas e jornais, que acabam por propor um modo de vida baseado no consumo constante e irracional dos mais variados produtos industrializados, o que pode levar ao endividamento e à falência.

Uma boa maneira de expressar o uso e a apropriação da indústria cultural e de seus meios pelo sistema capitalista visando sua própria sustentação, é falando da adoração a personalidades famosas que aumentou com o passar dos anos, e hoje em dia está mais forte do que nunca. Cantores de sucessos repentinos, atores de novelas ou filmes famosos, belas atrizes e jogadores de futebol passaram do status de pessoa para o de produtos. O capitalismo contemporâneo faz uso da moda, e esta é um reflexo do que essas personalidades promovem ou utilizam. Muitas pessoas procuram se espelhar nessas personalidades que elas têm como ídolos para se vestir de maneira parecida, comprando assim a calça “x” e a camisa modelo “y”. Até a aparência física é algo vendido, pois se você não possui as características que compõe o padrão de beleza atual, você será logo considerado “feio” ou estranho. Dessa maneira, para não se sentir excluído o indivíduo procurará meios para se tornar belo e ser aceito pela sociedade, assim ele fará tratamentos estéticos para poder fazer parte da sociedade. Em resumo, o capitalismo força as pessoas a se adaptarem a ele para serem aceitas pela comunidade.

O fetiche da mercadoria se encaixa neste ponto, e esse fetiche está diretamente relacionado à alienação do trabalhador. A alienação é um desconhecimento de si mesmo, ela afasta o homem de sua própria pessoa. Ela é o que permite esta adoração excessiva e sem muitas vezes uma reflexão correta sobre quem ou o que estamos adorando. Muitas vezes a pessoa não tem determinado produto por necessidade, e por influência da publicidade e da propaganda compra determinado objeto, pois é levada pela mídia a acreditar que não será ninguém se não tiver tal produto. O capitalismo contemporâneo cria necessidades artificiais para promover o consumo.

Sendo assim, podemos ver que, mesmo depois de mais de um século da publicação de O Capital, e apesar do chamado “fim da pré-história da Humanidade” ainda não ter ocorrido, a análise do capitalismo feita por Marx ainda apresenta uma incrível correspondência com a realidade, sendo extremamente relevante para a compreensão do sistema econômico predominante no mundo.