sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O projeto político para a Multidão

Na era do Império, é a Multidão quem tem o papel mais decisivo e participativo na sociedade. Cabe a ela criar, gerar e produzir novas fontes de valor, além de ser responsável pelo trabalho, atividade produtiva exclusivamente sua, e não do capital. O poder do Império é simplesmente organizativo e não-constituinte, ou seja, tem características mais simbólicas. Os próprios autores da obra Império, Antonio Negri e Michael Hardt, admitem que o Império não é uma realidade positiva e vêem a Multidão como essencial para esse sistema.

É possível nessa era construir um projeto político para a Multidão. Entretanto, é preciso analisar antes algumas formas de poder. Em sua época, o filósofo Michel Foucault atentou para um novo tipo de poder chamado biopoder, que toma por objeto a vida da população. Negri e Hardt aderiram ao pensamento de Foucault e acreditam no desenvolvimento do poder especialmente na passagem de uma “sociedade disciplinar” (funciona através de dispositivos disciplinares e mecanismos de inclusão e exclusão como prisão, escola e hospital) para uma “sociedade de controle” (não precisa dessas instituições disciplinadoras porque seus mecanismos mais difusos, ondulantes e imanentes, incidem diretamente sobre os cidadãos, por meio de sistemas de comunicação e redes de informação).

A sociedade de controle é melhor que a sociedade disciplinar, pois é mais democrática. Além disso, é favorável ao aparecimento de um importante projeto político: a biopolítica. Esta pode ser definida como estilo de governo que regulamenta a população através do biopoder (aplicação e impacto do poder político sobre todos os aspectos da vida humana). Na era do Império, seria a biopolítica uma alternativa política para a Multidão. Mas algumas ações teriam que contribuir para isso. Um exemplo seria a criação de mecanismos de organização da população através das novas mídias. Assim, as ferramentas de comunicação poderiam facilitar o controle da Multidão no contexto do Império.

Com o novo projeto político para a Multidão, o militante ao qual a última parte do livro Império faz referência também se modificaria. Tido agora como militante atual, ele seria chamado a ir além, e a participar na cooperação produtiva da intelectualidade de massa e das redes afetivas.